terça-feira, 31 de agosto de 2010

Pulsos

O que você vê quando olha pra mim?
Você já cansou de me dizer que vê além
Então me diz
O que você vê?
Pra mim o que você vê é a minha máscara
Superfície tratada, aprimorada e polida
Que eu apresento ao mundo para me proteger dele
E ele de mim.
Não nego que você me conhece mais do que a maioria
Mas se você visse o que eu vejo quando olho pra dentro...
Não sei como reagiria.
O que eu sinto não é bonito
Nem poético
Minha dor é lenta, forte, vil
Me corrói por dentro
Se desloca enquanto não estou olhando
E quando distraida
Ela me ataca
Súbita, e me arrasta pra baixo com ela

Hoje cortei os pulsos com a minha caneta
Pra não cortar com uma faca.

Gabriela Tavares
31/08/2010 - 12:15

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Aluando



Quando a Lua enche
Me faz também plena
Tal qual sua branca superfície
Minha pele alva e marcada se dilata e se incendeia
Não consigo mais caber em mim
De tão cheia.
E depois que escorre de mim um rio fértil
Fogo corre pelo meu corpo acima
Meu andar vira felino
Minha boca se enche d'água
Meu olhar se enche de promessas
E em minha voz ecoam convites
Tudo que há em mim exala
Um cheiro doce de pecado velado
Hoje, sinto esse momento se aproximar
Sorrateiro.
Ofego,
Cheia de expectativa
Espero que você apareça
Antes d'eu explodir.

Gabriela Tavares
27/08/2010 - 17:30

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Manifesto

Desculpe, mas não vou me desculpar por nada do que sinto.
Sinto, e sinto mesmo tudo o que eu quiser sentir.
Sinto muito se você não sente nada
Nada posso fazer quanto a isso
Agora, quanto a mim...
Me dá vontade de gritar:
Te amo, porra!
E quer saber
Esse amor é meu
Ele existe dentro de mim e somente para mim
Faço com ele o que eu quiser
Dou dele o que tiver que dar
Quero deixar bem claro
Que ele é meu. E nele você não vai tocar
A culpa não é minha se você é incapaz de recebê-lo
Eu não tenho nada a ver com seus problemas
Se você não quer pegar a mão que te estendo em ajuda
Vai e resolve eles sozinho
Eu ainda estarei aqui.
Não é você que vai me dizer como gastar meu tempo
Ou meu esforço
Toda escolha é minha
E não são suas ações que vão me mudar
Meu amor continua sendo meu
E só será seu
Enquanto eu o quiser dar.

Gabriela Tavares
26/08/2010 - 3:38

Chega !

Parem de fazer poemas de amor
Cansei de ouvi-los, de lê-los, de conhecê-los
Eu imploro
Parem por favor.
Tais poemas me torturam
Cortam minha carne
Me penetram
Tal qual falo violador
Me machucam
Sem querer com sua felicidade ignorante
Mal sabem tais poemas
Que seus dias estão estão contados
Sua felicidade prestes a acabar
Pois nada nesse mundo dura
Além do meu próprio amar.

Gabriela Tavares
25/08/2010 - 22:15
Escrito durante o POLEM

domingo, 22 de agosto de 2010

Folhetim

Memória

Todo mundo sempre me diz que a minha memória é ótima. Se surpreendem quando eu lembro de detalhes e situações do passado distante. Eu normalmente faço uma piada e agradeço. Gosto da minha memória bizarra. O que as pessoas se esquecem (rs) é que esse meu dom funciona pros dois lados...eu não só me lembro das coisas boas como também me lembro com perfeição das ruins. As vezes nem é tão bom assim se lembrar das coisas boas porque elas geralmente te machucam depois. Então vocês leitores que tem uma memória normal devem agradecer e valorizar o que têm. O esquecimento é sempre subestimado...quem me dera esquecer as coisas. O esquecimento é confortável, feliz, e ignorante. Lindo. Mas esse conforto me é negado. Eu me lembro de tudo. Todas as conversas. Todos os carinhos. Cada vez em que o mundo parecia parar diante de um olhar que durava a eternidade. (escrevi bonito agora heim). E isso quando se está triste é uma merda. Tenho sempre que me policiar porque se eu me permitir entro em um turbilhão de lembranças que não acabam mais. Nenhuma ferida em mim se cura por completo...apesar das coisas eventualmente melhorarem e de tudo acabar sempre ficando bem eu sempre vou me lembrar exatamente do que aconteceu e de como eu me senti e de repente tudo volta e sofro de novo por uma coisa que já passou.
Obviamente eu estou triste agora...mas escrever tem ajudado muito. Eu sempre fui de guardar as coisas e esse colocar pra fora é novo pra mim. Me desculpem se eu soar meio melosa. Talvez eu esteja me tornando uma pessoa mais saudável. Ou pelo menos uma pessoa menos implosiva. De qualquer forma o que me resta fazer é tocar pra frente, ligar meu botão de distanciamento emocional (falarei sobre ele mais tarde) e torcer pra que as memórias boas continuem comigo até a época em que eu irei olhar pra trás...e sorrir.

Gabriela Tavares

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

ISBN: Desconhecido

Quero me transformar num livro
Tatuar em minha carne todos os poemas que você escrever pra mim
Serei testemunho da sua obra
Referência do seu talento
Poesia viva que se movimenta
Impressa eternamente nessa carne sempre tua.

Gabriela Tavares
19/08/2010 - 00:51

Borboletas

                                                      Não afogue as borboletas do seu estômago
Deixa elas voarem livres
Abre a sua boca e solta elas no mundo
Me dá uma de presente
Me dá duas
Cada beijo que você me deu foi uma que saiu voando
Acredita em mim quando eu te digo
Que elas existem justamente pra isso
Voar em volta de nós
Por isso te falo
Vem e me beija
Solta mais uma
e outra
                                                       e outra
                                                       e outra...

                                                          Gabriela Tavares
                                                                                        19/08/2010 - 00:39

Na minha cama fria

Volto agora para a casa que não é bem o meu lar
Na madrugada gelada de uma noite de agosto.
Estive com você hoje e foi mais fácil do que eu pensei que seria
Imagino que a minha fachada calma não te engana.
Você me conhece.
Eu te disse as coisas mais intimas sobre mim na nossa cama.
Aquela cama que são muitas
A cama de motel barato
A cama de outra cidade
A tua cama de solteiro.
Todas essas são a nossa cama
Pois o que a (ou as) fazia especial eramos nós.
Deitados juntos
Transando, conversando ou só se olhando.
E pensando nisso eu reparei
Que nunca fizemos nossa a minha cama
Esta continua lá
Fria e vazia.
Nenhuma lembrança reside nela além da lembrança dos meus sonhos
E é pra ela que eu retorno agora
Pra deitar, (talvez) chorar, dormir, sonhar
E acordar com a certeza
De que não importa  o que aconteça
Ela continuará lá
Vazia
E fria.

Gabriela Tavares
19/08/2010 - 00:30

Uma música pra mostrar como eu me sinto



Uma das músicas mais tristes e mais lindas que já ouvi.

Momento descarrego

A tristeza incomoda as pessoas...
Parece que ninguém quer ser lembrado de que existem outras pessoas com suas próprias dores além do seu universo pessoal. Ontem eu me dei conta disso no ônibus enquanto voltava pra casa. A Vida veio mais uma vez escarrar na minha cara sem necessidade e eu estava triste. Chorei a viajem inteira, não me envergonho em dizer, nada havia de belo em meus soluços. Sempre fico boba quando vejo certas mulheres que quando choraram ficam até mais bonitas...eu não sou uma dessas...meus olhos ficam vermelhos e inchados e meu nariz escorre e meu rosto transparece tudo o que eu estou sentindo(e isso é raro). Mas voltemos ao desconforto alheio...me sentei atrás do banco alto traseiro para ter mais privacidade e o ônibus foi enchendo. Um senhor me pediu licença para se sentar ao meu lado e pareceu manter uma distancia respeitosa. Algumas pessoas em volta olhavam as vezes mas a maior parte do tempo elas preferiam desviar seu olhar. O inusitado foi o rapaz que se sentou diretamente a minha frente, no banco alto. Ele olhou pelo reflexo da janela algumas vezes...colocou um fone de ouvido e tentou se distrair mas enfim desistiu e no meio da viajem foi se sentar em outro lugar. Eu achei isso uma coisa de viado (sem ofença a homosexuais). No meio de tuda aquela merda vem o cara e faz uma coisa dessas. Quase me levantei e disse pra ele: "Quem é vc pra se sentir desconfortável com o meu sofrimento?!". Mas achei melhor chorar sossegada no meu canto.

Quando desci do ônibus imagino que as pessoas tenham ficado aliviadas...não prestei muita atenção...só tentei não cair com as minhas pernas bambas e minha vista turva. Honestamente...que se fodam elas. Não fui direto pra casa, a única coisa pior do que eu estava sentindo seria minha mãe perguntando qual é o problema. Não gosto de gente se metendo na minha vida e ela força a barra. Fui pra casa de um amigo que apesar da hora me atendeu prontamente. A gente já é amigo a tanto tempo que de longe, quando ele abriu a janelinha da porta, ele viu que tinha alguma coisa errada. Conversamos bastante e eu consegui me acalmar bem. Sua presença sempre me confortou em todos os momentos dificeis e acreditem ele já esteve comigo em muitos.

Não sei muito bem por que estou postando isso no blog...mas senti que precisava escrever alguma coisa ou explodir e o cara ficou com a minha única caneta ontem rsrsrsrsr. O Bukowski tinha muitos textos assim...onde ele contava como se sentia em relação as coisas. Não estou me comparando mas se ele podia então por que eu não posso também.

E as pessoas que ficarem desconfortaveis com esse texto...por favor não fiquem...saiam de seus casulos e abraçem o mundo...ou fodam-se...não necessariamente nessa ordem.

Gabriela Tavares

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Aniversário do Bukowski

Não poderia deixar de marcar essa data especial. Aqui vai um poema.

 

 

A Love Poem

todas as mulheres
todos os beijos as
diferentes formas que amam e
falam e carecem.
suas orelhas todas elas têm
orelhas e
gargantas e vestidos
e sapatos e
automóveis e ex-
maridos.
na maioria das vezes
as mulheres são muito
quentes elas me lembram
torrada com a manteiga
derretida
nela.
está estampado no
olhar: elas foram
tomadas elas foram
enganadas. eu nunca sei o que
fazer por
elas.
sou
um bom cozinheiro um bom
ouvinte
mas nunca aprendi a
dançar — eu estava ocupado
com coisas maiores.
mas eu apreciei suas variadas
camas
fumando cigarros
olhando para o
teto. não fui nocivo nem
desleal. apenas
um aprendiz.
eu sei que todas têm
pés e descalças elas andam pelo piso enquanto
eu olho suas modestas bundas no
escuro. sei que gostam de mim, algumas até
me amam
mas eu amo muito
poucas.
algumas me dão laranjas e vitaminas;
outras falam mansamente da
infância e pais e
paisagens; algumas são quase
loucas mas nenhuma delas deixa de fazer
sentido; algumas amam
bem, outras nem
tanto; as melhores no sexo nem sempre são as
melhores em outras
coisas; cada uma tem seus limites como eu tenho
limites e nós aprendemos
cada qual
rapidamente.
todas as mulheres todas as
mulheres todos os
quartos
os tapetes as
fotos as
cortinas, é
algo como uma igreja
raramente se ouve
uma risada.
essas orelhas esses
braços esses
cotovelos esses olhos
olhando, o afeto
e a carência eu tenho
agüentado eu tenho
agüentado.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Será que eu fecundei o Mar?

Numa cidade distante
Além da Realidade
Eu entro no Mar
Carregando dentro de mim
Um pedaço de você.
O Mar me envolve, me abraça
Tira de mim todas as preocupações
De como vão ser os dias que virão
Me abro para ele e deixo sua alma me tocar
De dentro de mim flui para o Mar o que eu carrego de você
E ao sair dele para seguir meu caminho
Eu penso
Será que eu fecundei o Mar?

                                                                                                       Gabriela Tavares

domingo, 1 de agosto de 2010

Teias de aranha na garganta

Por que nunca dizemos o que realmente queremos dizer?
Ficamos perdidos num labirinto de amenidades e comentarios casuais.
Por que uma pessoa não pode simplesmente dizer: "Eu gosto de você" ou "Desaparece, não quero te ver mais"
Sem que um abismo de medo e consequencias se abra sobre seus pés dentro de sua cabeça.
As palavras têm poder
E quando são ditas e saem para o mundo
Levam consigo os desejos de quem as disse...
Se você tem o poder de moldar o seu mundo
Por que não o faz?
Abra seus olhos
Saia pra rua, pro telhado, pra pracinha...onde for
e GRITA tudo que se entala em sua garganta
Todos fomos treinados para engolir
Então eu entendo seu receio
Mas se dizem que uma voz sincera fala mais alto do que uma multidão
Imagine o que um grito sincero não faz.
Então seja forte e grite
Como eu estou gritando agora.

Gabriela Tavares


Sei que sou uma não-poeta...mas não é que acabei escrevendo uma poesia. XD