sábado, 24 de setembro de 2011

Hiperpassionalidade preocupante

Não sei o que fazer com o que eu sinto.

E todos esses textos, essas poesias, são gotas que eu derramo pra não transbordar. O mundo continua igual e meu texto só afeta sua autora. Neil Gaiman fala em um livro que todos somos ilhas e eu penso que ele está certo. Eu nunca vou ser um continente e, com esse espaço limitado, o que eu vou fazer com esse amor que me consome. Não falo exatamente de amor por um homem ou outro mas de todo esse potencial do que poderia ser. Eu poderia ser mulher de alguém, mãe...não agora mas no futuro. Parece que tudo que sei fazer é amar. Pra essa noite eu só queria não dormir sozinha. Sabe, desde que me acostumei a ter um amor do lado nunca mais consegui dormir sozinha da mesma forma. E agora, a maior parte das noites eu nem durmo mais. Passo horas matanto tempo, só me deito quando o galo da vizinha canta. E tenho bebido tanto. Nada preocupante mas parece que eu só durmo quando chego alta em casa. E o céu pesa em cima de mim. E ele me ignora, não liga se o peso de carregá-lo me dobra. O que me leva a escrever agora. Com certa "hiperpassionalidade preocupante"...É, acho que muito passional sim. Mas eu enlouqueço todo dia no papel, só pra continuar tentando sorrir durante o dia.

25/09

Retrato de uma angústia

Sangue, saliva e porra escorriam pelas coxas enquanto a moça se levantava da cama para tomar um banho. Mais uma noite de excessos passara e mais um dia de trabalho se seguia. Os detalhes de seu sonho esvaiam-se aos poucos deixando apenas a sensação de que não tinha sido de todo ruim.
Eram três os tipos de sangue que escorriam. O primeiro era o da sua menstruação, que descia como sempre com a sua precisão suíça. O segundo era o sangue interno de pequenas feridas que ser furor a levava a não evitar. E o terceiro sangue, metafórico, era o que pingava de seu coração. Que apesar de distante, do outro lado da caixa toráxica, deixava ainda assim que seu sangue se juntasse a seus companheiros fugidios.

Os minutos continuavam a se arrastar enquanto ela começava sua rotina diária, já automática. Levantar, desligar o despertador, tirar a camisola suada, entrar no banho, ligar o chuveiro, passar o sabão - dor, feridas abertas - tirar o sabão, se secar (com cuidado), colocar a calcinha de algodão, escolher o vestido, pentar o cabelo, almoçar, escovar os dentes, pegar a bolsa e as chaves, sair pro trabalho.

No metrô, depois de todo esse processo da manhã, ela observava as pessoas ou lia um livro. Qualquer coisa para escapar da própria vida. Dezoito estações depois a vida recomeçava e assim seguia o dia no trabalho.

Uma semana passou e agora eram somente dois os sangues. O das feridas qie ela não se dava o tempo para deixar fechar e o do coração pingando, pingando.

Escreveu um dia em seu caderno: "O amor escorre de dentro de mim num fluxo sem pausa, vermelho. Sem sangue não existe amor." Mas depois não mostrou a ninguém. Nunca achou que alguém se interessaria por umas frases estúpidas sobre amor e sangue. Com certeza acabariam rindo dela, ela pensaria se conseguisse sair do seu tupor o suficiente para ligar para o que os outros pensavam.
O contínuo sangrar de sua alma e corpo acabaram por gerar nela uma dormência - é, acho que essa é a melhor palavra - que não a abandonava nunca. Na verdade nem chegava a ter consciência dela. Só sabia que quase todo dia fazia um desenho no pulso, uma linha com a caneta.
As feridas fecharam porque seu amor estava longe, passou alguns dias sem vê-la. Agora só um sangue escorria e não havia mais saliva e nem porra. Estava vazia, só o sangue do coração continuava a pingar. Angústia. Se olhou no espelho. Respirou fundo e fez o corte. Agora o sangue do seu coração tinha parado de gotejar pelas suas coxas. Jorrava livre (finalmente) pelo pulso, que cansado do teatro da caneta, agora se via feliz.

E ela conseguiu finalmente sentir alguma coisa.

12/02/2011

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Amour

Abro os olhos e vejo

Minhas garras

arranhando carne quente

Sinto algo se mover

Por debaixo da minha pele

o amor

coberto de sangue e vermelho

ruge

por mais

mais sangue

mais carne

e se meus cortes não são suficientes

ele aumenta a ferida que eu tenho por dentro

me deixa exposta

mais sangue

e o que é o prazer sem o sangue

além de uma recompensa vazia

as vezes eu quero parar

porque machuca

mas o amor não me deixa

e mesmo se quisesse me deixar

eu o envolveria com braços e pernas

como faço com os homens

e amarraria ele em mim

porque enquanto ele me consome

me comendo aos poucos

eu como ele também.



23/09
 

Meio que inspirada na música Amour Amour do Rammstein e em todos os desejos violentos que nós carregamos por dentro

Milhagem

"Já são quase 5 da manhã..."

Foi o que pensou ao olhar o relógio. Mais uma noite sem dormir. Mais quilômetros andados. Milhagem a toa...Pois sempre acaba andando atrás do que não existe, como tranquilidade. Não consegue dormir. E se ocupa pela noite, costura, vê TV, lê. Não importa. Sente a cama vazia esperando. Outro dia dormiu no sofá só pra não ver a cama. As vezes o desejo por um espaço próprio sufoca. Mas continua tendo mais do mesmo. Olha o relógio, com cansaço e pensa:

"Já são quase 5 da manhã..."

23/09/2011
Escrito nas ruas da Lapa em mais uma dessas madrugadas sem fim...e admito que estava meio alta.


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Cor do dia

Essa noite tive um sonho vermelho.

Acordei num mundo cinza com as nuvens baixas
mas vermelho ainda era a cor do dia
vermelho era o filtro por trás dos meus olhos
vermelhas são as pontadas de dor que me assaltam
vermelho é o sangue que escorre por dentro da minha boca
num gosto de ferro e e de cor
violento
que eu não consigo tirar.

Talvez amanhã eu tenha um dia azul-escuro.
14/09/2011
 

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Poemas esquecidos no celular 2

Todas as músicas são sobre o amor
E todas as histórias
Os filmes e os livros
Tudo que as pessoas criam
O que escrevem
Tudo acaba sendo um veículo
Para tentar consertar nossa incapacidade natural de lidar com o amor. Então nós criamos um milhão de eufemismos e clichês só para processar a loucura. As vezes eu acho que fazemos isso porque não existem palavras suficientes. Temos que recorrer a imagens. Mas o que descreve o amor? Nada, na minha opinião todo esse esforço que fazemos é fútil e egoísta. O texto só afeta de verdade a vida do próprio autor. Mesmo que outras pessoas se identifiquem com ele. Eu sou egoísta. E você, leitor, também é. Continuamos nossas vidas em meio a convulsões. Batendo uns nos outros só pra sentirmos algo externo ao mundo interior onde estamos todos presos. Do meio da tempestade eu grito. E você escuta de longe.

26/07/2011