sábado, 30 de abril de 2011

Prosa poética

Hoje disseram para o mar "Jandira" de Murilo Mendes. Lembrei, como sempre, da primeira vez que ouvi esse poema. Olhava a boca do meu amado, que se movia harmoniosa e dela saia o um dos sons mais lindos do mundo. Sua voz num tom de carinho que há muito não ouço mais.

Meu amor me mostrou que o melhor jeito de ouvir poesia é nua. E nesse estado de graça é que me encontrava, bebendo as palavras e sonhando. A mercê de seus beijos que voavam pelo quarto como mariposas e pousavam em mim. E eu as engolia do mesmo jeito que engolia o resto do amado. Numa vontade louca de consumir o que amo. Roubando-o dele mesmo, pedaço por pedaço. O tendo dentro das minhas pernas, na minha saliva, debaixo das minhas unhas...

Meu amado vive agora no meu corpo misturado em minhas células.

Não sou mais só eu só.

Sem ele eu nunca estou sozinha.


27/04