terça-feira, 30 de novembro de 2010

Sobreposição


Sal e saliva sobre a pele
Juntos
Sendo o que somos
Mesmo sem sermos
Te beijo
E descubro que o infinito existe
Aqui
Sobreposto a noite
Por onde vagamos
De mãos dadas.

Gabriela Tavares
01/12/2010 - 01:49


sábado, 27 de novembro de 2010

Inevitabilidade




A porta se fechou e eu nem olhei pra tras
Estava ali presa
Olhando para meu companheiro de cela
Que agora se aproximava para me dizer
O que eu já sabia
Que estava além de qualquer salvação
Chegara ao fim de um caminho que não tinha volta
E ao ouvi-lo dizer isso eu sorria
Abandonara já toda esperança (e vontade) de retorno
Olhando nos olhos do poeta disse:
O que te faz pensar que eu não sabia?
Escolhi cada passo que dei
E ao entrar na última armadilha
Já sabia que você estaria aqui a minha espera
Pois ao me afundar dentro de você
Te trouxe  para mais fundo dentro de mim
Olha pros seus pés
Eles carregam as mesmas correntes
Não estou sozinha aqui
E a inevitabilidade das coisas me leva a crer
E não existe por que tentar sair
Estou exatamente onde deveria estar
E você?

27/11-03:03

Armadilha

Foge
Poetas são armadilhas
Poços sem fundo
De onde nunca vais sair
Corre pois os olhos de um poeta são buracos negros
Sua boca alçapão
O corpo do poeta se faz de areia movediça
Te suga pra dentro
O coração de um poeta é como sala secreta
Você entra e só sente que está preso
No momento derradeiro em que a porta se fecha
Em suas costas
Corre
Poetas são vulcões adormecidos
São fendas profundas no mar de solidão
Deverias correr
Mas já não podes mais
A porta ja fechou
E o que te resta é estar
Dentro do coração do poeta
Juntos numa mesma armadilha
Não querendo tirar o pé antes do click.

Gabriela Tavares
27/11 - 02:28


quarta-feira, 24 de novembro de 2010


Vestir-se?
Pra que?
Vamos continuar juntos aqui
Num espaço alheio ao tempo
Onde nós marcamos o nosso ritmo
Por comer, se amar, dormir
Numa sucessão de dias e noites
Embaralhando e sincronizando
Nossos relógios biológicos
Quer vestir-se?
Vista-se com meu suor
Com o seu, misturados
Fazem uma roupa linda
Que se tira no banho
Onde eu te ensaboou e você me seca
Pra não molhar a cama
Ao voltar pra ela
Seu quarto
Planeta que orbita independente
É com certeza perto do Sol
E da Lua,
Que está em meu corpo
E que você beija
Me veste de saliva
E na penumbra eu brilho
Pele e olhos a luz de velas
Que aula?
Que trabalho?
Quando tudo que existe permanesce
Contido no espaço
Da nossa nudez.

Gabriela Tavares
23/11/2010 - 00:35

As vezes me faltam palavras
E fico num silêncio
Que cheio de Significados
Se desdobra
Preenchendo o espaço e a distância
Entre nós
O silêncio da espera
Marca minha tarde
Ressoa ensurdecedor
Dentro da minha cabeça
Tenho vontade de correr
De sair voando
Qualquer coisa que acelere
A chegada da noite
Onde um fogo lento e forte
Me consome devagar
E prazeres me esperam
Numa cama onde irei
Me deleitar em teu corpo quente
Que transforma minha carne
Fria em trêmulo calor
E desabrocha como flor
Quando você me toca.

Gabriela Tavares
19/11/2010 - 15:40



Onde está você que não está na minha cama?
Vou dormir e você não está aqui pra me aquecer
Meu cheiro já está impregnado na sua cama
Por causa da noite
Que passamos juntos ontem
Você tem o conforto de saber
Que era na cama onde você se deita agora
Que estávamos
E eu?
O que me sobra é a minha própria cama
Sempre vazia
Mas pelo menos o vazio não é de tristeza
E sim de saudade
Quero me encaixar no seu abraço
Roubar seu calor
Dormir enrolada em você
Num mundo particular
Debaixo de um edredon

Gabriela Tavares
16/11/2010 - 02:47

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Curta

Diante da aurora fria
A madrugada avança
Incansável
Dois corpos se entrelaçam
Mais uma vez
Mirando o infinito

10/11/2010 - 17:00

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O Beijo de Gustav Klint


Tô inspirada hoje e decidi postar esse quadro do Klint que me diz muitas coisas. Espero que diga coisas pra vocês também.

Noite e Manhã

Gosto quando entra em mim
Com a calma calculada
De um homem que sabe o que faz
E me olha nos olhos
Enquanto se coloca
Centimetro por centimetro
Devagar
Pois gosta de me ver trêmula
E só me dá mais quando eu
Imploro
Beija minhas marcas
Se embaraça em meus cabelos
E deixa na minha boca o gosto
De coisas amargas, doces e salgadas
Todas juntas formando
Um novo universo toda vez que me
Beija
Se entranha em mim
Noite a dentro
Até que de manhã
Sou forçada a dizer que
Não posso mais
E diante disso se retira
Me abraça
E me olha dormir
Com todo o jeito de quem sabe
Esperar as coisas boas que estão
Por vir
Me acorda com mordidas na nuca
Exposta
Estou aberta como um livro
Esperando que me leia
Mas a manhã passou e vou embora
Tudo bem,
Outras noites virão
E manhãs também.

Gabriela Tavares
07/11/2010 - 05:44

Inspirado no trabalho do poeta Pedro Cavalcante