domingo, 18 de março de 2012

O branco se foi

Gosto mesmo é dessas auto-indulgências criminosas
Dos momentos-bisturi
Que parecem tão inocentes
E brancos.
Da esquina que eu não virei
Da rua errada que eu peguei
E todas as outras.

Tá vendo minha mão?
Meu braço?

O mundo não pegou fogo ainda
E olha que eu nem bebi hoje.

Onde estão minhas pernas?
Pra onde foi meu corpo?
Acho que nos separamos quando virei a esquina
E agora fico aqui
Flutuando
Sem tato e cega
A luz é clara de mais
E eu sem minhas pálpebras.
Desconectada
Separada sempre dos meus desejos
Que brotam do chão.

Olha pra mim!
Você tá me vendo?
A carne é dormente mas eu estou aqui.

Tá me ouvindo?
Porque eu tô gritando
Mas não acho a minha garganta
Minha língua se perdeu na Lapa.

Agora, o branco se foi
O desejo é vermelho.


18/03/12

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